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O que você aprende em 15 segundos

Construir uma identidade no campo virtual tem sido objeto de atenção no dia a dia em que me observo enquanto artista. Há um questionamento de valores pessoais que vão de encontro com “exigências” para que haja uma vida “significativa”, ou melhor, digna de alcance dentro das redes sociais.

A vida online está basicamente dividida em dois grupos. Há os que sucumbem ao consumo e a adequação exigida para tal socialização online, quase que um movimento de alienar-se da realidade para cumprir metas e alcançar views num ritmo de vida insano de criação forçada, seguindo padrões para poder se encaixar neste modelo do que é o considerado “sucesso” da atualidade. E há os que se afastam desta loucura socialmente construída, fazendo um movimento oposto de distanciamento do excesso da exposição virtual/online, construindo uma visão mais realista da rotina do artista, atendendo às suas próprias vontades, e não apenas cedendo às chamadas dinâmicas de convivialidade. 

A questão que trago aqui hoje, sobre essa loucurada que é  estar dentro de uma rede social em constante mudança, a partir da perspectiva do artista, é refletir um pouco sobre a falta de contextualização, complexização, de uma entrega de um trabalho artístico. Isso porque hoje, rolando o feed, facilmente encontramos um reels de algum artista que em 5 segundos mudou da tela branca para uma tela pronta e finalizada.

“Ah, mas é só um vídeo!”, vão dizer. Então a nossa construção artístico-social será baseada em só mais um vídeo? Um vídeo que some e logo vem outro e mais outro e mais outro e, de repente, você está cercado de vários vídeos do mesmo e já não aguenta mais vê-los, ou ainda assim frustra-se enquanto artista porque não se sente capaz de realizar um trabalho de tamanha complexidade em tão pouco tempo. Que tipo de influência estamos exercendo quando reproduzimos estas sequências? Quais mensagens estão chegando ao outro lado da tela?

Há uma necessidade de formação específica quando se tem a intenção de abordar um aprendizado/ensino de qualidade além da prática, mas também a leitura dentro dos contextos sociais, históricos, políticos e etc. Tudo bem que nem todo mundo quer ensinar algo nesse tipo de vídeo, mas o que eu quero apontar aqui é que isso gera ansiedade em quem está nesse processo de aprender e, de certa forma, ao meu ver, faz com que as pessoas queiram pular etapas, que desejem uma  realidade como no vídeo, onde você aperta a tecla e está tudo pronto e bonito.

Para mim, a arte tem um papel social muito importante, que é ser instrumento do fazer pensar, problematizar, gerar discussão para além do belo. Na arte, assim como em outras profissões também, tudo se constrói com estudo, conhecimento, investimento, treino, teste, além de constante aperfeiçoamento, exploração da técnica e consequentemente do estilo. E fomentar essa corrida maluca das redes sociais não faz sentido com essa construção e estruturação de carreira como artista.

Outra problemática que temos aqui é o fato de que muitas das vezes o artista é o faz tudo: cria, vende, embala, envia, atende o cliente, faz orçamento e ainda precisa ter tempo para alimentar suas mídias. É preciso reconsiderar este modelo de “vida” se não quisermos ser o próximo a ter um burnout.

Sou a favor de dar tempo ao tempo, de fazer o que faz sentido pra si, compartilhar o que de fato é relevante para a sua jornada e, quem quiser se conectar com a proposta, organicamente (ou nem tanto) há de chegar. Gosto de ser otimista em tempos onde o trabalho cabe dentro do nosso bolso e nos acompanha o tempo todo, gosto de ter esperança de que um dia as pessoas vão conseguir respirar fundo e seguir criando sem tanta autocobrança, compartilhando os perrengues e alegrias da vida de artista, podendo-o fazer sem acelerar, nem mesmo em 15 segundos. E você, qual versão da sua arte tem mostrado por aí? 


Vem com a @pinc_


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